O bem-estar animal pode ser definido pelo estado de harmonia do animal em relação ao ambiente em que vive.
Os princípios de bem-estar de animais de produção envolvem a boa nutrição, boa saúde, manejo e instalações adequadas e expressão de comportamentos característicos da espécie, que estão diretamente relacionados com características que interessam ao setor de produção animal, destacando-se o crescimento/ganho de peso, desempenho reprodutivo, qualidade da carne e da carcaça, resistência às doenças e segurança dos trabalhadores e dos animais.
Os frigoríficos são obrigados por legislação a adotar técnicas de bem-estar animal, aplicando ações que visem à proteção dos animais, evitando os maus tratos desde o embarque na propriedade até o momento do abate no frigorífico, o qual deve dispor de instalações para acomodação dos animais, com o objetivo de minimizar o estresse após o desembarque.
Para avaliar o bem-estar é necessário considerar de forma abrangente os fatores que interferem na qualidade de vida do animal. Para isso foi desenvolvido o conceito das cinco liberdades, adotado mundialmente, que devem ser garantidas aos animais:
– livres de fome, sede e má nutrição;
– livres de desconforto;
– livres de dor, injúria e doença;
– livres para expressar seu comportamento normal;
– livres de medo e de estresse.
Para reduzir o estresse é necessário atender à qualidade ética, que inclui métodos de manejo pré-abate e instalações que reduzam o estresse, equipe treinada e capacitada, comprometida, atenta e cuidadosa no manejo das aves, equipamentos apropriados e devidamente ajustados à espécie, e processo eficaz de insensibilização que induza imediata perda da consciência e sensibilidade. Capacitar pessoas para o manejo com os animais é o fator de maior impacto positivo para o bem-estar em frigoríficos.
Bem-estar animal no frigorífico é muito influenciado pelo manejo oferecido aos animais. É necessário conhecer o comportamento das aves para reconhecer os sinais de estresse e dor. As aves percebem o ambiente utilizando, principalmente, a visão, audição e olfato, reagindo de acordo com o comportamento inato e aprendido. Elas só enxergam claramente em uma estreita área voltada a sua frente. Tem visão lateral ampla e panorâmica para detectar movimentos, sem detalhes.
A apanha é a primeira etapa do manejo pré-abate, um momento em que as aves estão mais suscetíveis ao estresse, influenciando diretamente o bem-estar e a qualidade da carcaça. As agroindústrias têm investido em capacitação das equipes de apanha, a fim de aprimorar as boas práticas de manejo e reduzir as perdas econômicas e melhorar a qualidade da carne e, claro, bem-estar das aves. A apanha deve ser realizada preferencialmente pelo dorso, nas horas mais frias do dia e em ambiente calmo e com mínimo de barulhos e ruídos. A realização de subdivisão de lotes em pequenos grupos é fundamental, já que diminui o espaço de fuga e também evita a aglomeração das aves, reduzindo o estresse e lesão nos animais. A acomodação das aves dentro das gaiolas deve garantir espaço suficiente para que as mesmas possam deitar-se na gaiola ao mesmo tempo sem que fiquem umas sobre as outras.
Um dos maiores desafios durante o pré-abate no frigorífico é manter o controle das condições ambientais na espera de forma a proporcionar o conforto térmico e auxiliar na recuperação do estresse físico a que as aves foram submetidas durante a apanha, carregamento e transporte. As aves no frigorífico podem sofrer estresse pelo calor ou frio. Sendo assim, a equipe da área de espera precisa estar capacitada para reconhecer esses sinais de estresse nas aves e se responsabilizar por proporcionar um ambiente que promova recuperação, mantenha a temperatura e umidade do ambiente dentro da zona de neutralidade e fazer uso estratégico de ventilação/exaustão, nebulização e sombra para evitar o estresse térmico que pode levar à morte das aves por hiper ou hipotermia.
Outro fator importante é o tempo de jejum, compreendido entre a retirada da última alimentação sólida (ração) na granja até o momento do abate. Recomenda-se um período de 08 a 10 horas, somando o período de transporte e espera, não podendo exceder 12 horas. Atender ao período de jejum traz impacto positivo tanto no bem-estar animal quanto na qualidade da carne. Durante o período que antecede a apanha é essencial que as aves tenham livre acesso a água. O jejum objetiva atender aos critérios higiênico-sanitários, pois as aves precisam chegar ao frigorífico com o mínimo de conteúdo gastrointestinal para reduzir os riscos de contaminação durante o processo de abate.
Antes do abate em si, as aves são submetidas ao processo de insensibilização, tendo a cabeça imersa em uma cuba de insensibilização com água eletrificada, de modo que a corrente elétrica flua da cuba para as aves, dissipando-se para o gancho, para submetê-las à perda da consciência imediata. O estímulo é interpretado pelo organismo rapidamente, o que assegura que as aves não sintam dor quando imersas na água eletrificada. Sendo um efeito apenas temporário, portanto, o objetivo é induzi-la à inconsciência imediatamente e garantir que sua duração persista até o momento da morte, que ocorre após a sangria.
A implantação de um programa de bem-estar nas agroindústrias é uma ferramenta essencial para minimizar riscos, melhorar o ambiente de trabalho, incrementar a produtividade e atender às exigências de mercados, além de reduzir as perdas da qualidade do produto final e contribuir para a redução na ocorrência de hematomas, contusões e lesões.
Autoria:
Daniela Lazo
Micheli Willemann Schmoeller
Controle de Qualidade Ave Serra
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Referência:
Abate humanitário de aves / Charli Beatriz Ludtke et al. Rio de Janeiro : WSPA, 2010. Bem-estar animal no Brasil. Acesso em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/producao-animal/arquivos-publicacoes-bem-estar-animal/folder-bem-estar-animal-no-brasil-versao-portugues.pdf